sexta-feira, 12 de março de 2010
LIBERTÉ
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12:40
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ela sorriu e então disse - em tom sóbrio:
- sinto uma inveja de você, ana maria, mas veja bem, é daquelas invejas boas,
de quem só quer o bem, você me entende?
- não, inveja boa? não entendo. inveja é inveja oras!
- eu sabia que você não entenderia, eu penso que inveja boa, é quando não se quer o mal.
eu a interrompi bruscamente
- mas queria estar no platô de quem se inveja.
- não é bem assim...
- inveja é inveja e ponto. mas na sua balança, a admiração e seu amor por mim falam mais alto, é só isso. e então a
inveja fica em segundo plano.
- eu não vejo por esse lado, você é sempre tão bruta em suas colocações. minha inveja se divide em duas: a boa e a ruim.
ela me irrita quando tenta se colocar num patamar de elevação espiritual, como se não sentisse o 'puro' ciúme, como se
não desejasse a morte de terceiros, mesmo que por alguns minutos, ou como tenta descrever a inveja num utopismo
decadente.
- marina, você sente ciúmes de mim?
- não, acho que não.
- eu sinto ciúmes, principalmente quando seus amigos jornalistas, começam a dialogar inconclusivamente
por horas, e vocês tem tantos assuntos...
marina abre um sorriso de menina, e parece sentir-se satisfeita com meu comentário.
- ana, não diga isso. não é preciso ter, você sabe.
- eu sei, mas sinto. e estou no meu direito.
- acho que me sinto também deslocada, quando você está com ele.
- com quem, com jorge?
- sim - abaixa a cabeça e começa a olhar suas mãos - principalemente quando sinto que ele não me quer aqui,
e você sabe que ele não faz questão de esconder isso. fico imaginando o que vocês fazem quando eu saio, ou quando vocês
se encontram por acaso, se é que o acaso existe.
me senti confortável com a insegurança de marina, era como se ela estivesse, agora, em meu patamar. ela bebia a
água que eu bebia, e desfrutava de pensamentos miúdos, e do velho ciúmes dos mortais.
- querida, você bem sabe que somos velhos amigos; entendo esse ciúme talhado.
- não é ciúmes, eu só penso. eu só me sinto um pouco de lado; assim como você deve sentir com meus amigos.
- pois bem, não me sinto 'de lado'. eu sinto é ciúmes.
- eu te acho tão engraçada.
- eu? engraçada? mas, oras...
- você quer me persuadir, e tenta me seduzir com suas idéias.
se ela entendesse que eu só quero que ela saia do útero da mãe.
- marina - disse eu - desculpe-me, não quero te persuadir, longe de mim, quero que pense por você. não quero
influenciar-te.
- não, ana, não é isso. eu gosto de ouvir seus pontos de vista, mas ás vezes parece que você é categórica, taxativa
de mais; como se o mundo todo sentisse o que você sente, da forma como você sente.
não sinto raiva de marina ter pensamentos comprimidos, oprimidos, comprensados; 'ela é uma menina, ela ainda é uma
menina'
- desculpa se te chateio, não faço por mal.
marina pisca o olho esquerdo, como faz sempre quando está resignada.
- que horas são?
- não sei, vou olhar. tem pressa?
- tenho, vou sair com maurício; ele quer me mostrar um quadro da exposição de delacroix, que ele adora; sabe bem como
é maurício, obesessivo com seus vícios, se tratando de delacroix então...
- são 14:25; já vai?
- sim. combinei com ele ás 15:00 em frente ao café minuano, vou passar em casa primeiro, preciso pegar um agasalho.
- não precisa arrumar a cama. vá, antes que se atrase. se tivesse um casaco que lhe caísse bem...
- pois então eu vou. seus casacos são muito extravagantes, só quem pode usá-los é você, ana. posso voltar? eu posso
durmir aqui, hoje?
- não, jorge e eu temos de revisar um roteiro; será maçante pra você ficar. por que não sai com hilda?
- talvez. tenho que ir, depois nos falamos então.
beijo seco, típicamente enciumado. braços pendentes, de quem possui raiva velada.
- se cuida, marina.
- bom trabalho, ana.
'menina, ela ainda é uma menina - ainda está incubada no útero'
- sinto uma inveja de você, ana maria, mas veja bem, é daquelas invejas boas,
de quem só quer o bem, você me entende?
- não, inveja boa? não entendo. inveja é inveja oras!
- eu sabia que você não entenderia, eu penso que inveja boa, é quando não se quer o mal.
eu a interrompi bruscamente
- mas queria estar no platô de quem se inveja.
- não é bem assim...
- inveja é inveja e ponto. mas na sua balança, a admiração e seu amor por mim falam mais alto, é só isso. e então a
inveja fica em segundo plano.
- eu não vejo por esse lado, você é sempre tão bruta em suas colocações. minha inveja se divide em duas: a boa e a ruim.
ela me irrita quando tenta se colocar num patamar de elevação espiritual, como se não sentisse o 'puro' ciúme, como se
não desejasse a morte de terceiros, mesmo que por alguns minutos, ou como tenta descrever a inveja num utopismo
decadente.
- marina, você sente ciúmes de mim?
- não, acho que não.
- eu sinto ciúmes, principalmente quando seus amigos jornalistas, começam a dialogar inconclusivamente
por horas, e vocês tem tantos assuntos...
marina abre um sorriso de menina, e parece sentir-se satisfeita com meu comentário.
- ana, não diga isso. não é preciso ter, você sabe.
- eu sei, mas sinto. e estou no meu direito.
- acho que me sinto também deslocada, quando você está com ele.
- com quem, com jorge?
- sim - abaixa a cabeça e começa a olhar suas mãos - principalemente quando sinto que ele não me quer aqui,
e você sabe que ele não faz questão de esconder isso. fico imaginando o que vocês fazem quando eu saio, ou quando vocês
se encontram por acaso, se é que o acaso existe.
me senti confortável com a insegurança de marina, era como se ela estivesse, agora, em meu patamar. ela bebia a
água que eu bebia, e desfrutava de pensamentos miúdos, e do velho ciúmes dos mortais.
- querida, você bem sabe que somos velhos amigos; entendo esse ciúme talhado.
- não é ciúmes, eu só penso. eu só me sinto um pouco de lado; assim como você deve sentir com meus amigos.
- pois bem, não me sinto 'de lado'. eu sinto é ciúmes.
- eu te acho tão engraçada.
- eu? engraçada? mas, oras...
- você quer me persuadir, e tenta me seduzir com suas idéias.
se ela entendesse que eu só quero que ela saia do útero da mãe.
- marina - disse eu - desculpe-me, não quero te persuadir, longe de mim, quero que pense por você. não quero
influenciar-te.
- não, ana, não é isso. eu gosto de ouvir seus pontos de vista, mas ás vezes parece que você é categórica, taxativa
de mais; como se o mundo todo sentisse o que você sente, da forma como você sente.
não sinto raiva de marina ter pensamentos comprimidos, oprimidos, comprensados; 'ela é uma menina, ela ainda é uma
menina'
- desculpa se te chateio, não faço por mal.
marina pisca o olho esquerdo, como faz sempre quando está resignada.
- que horas são?
- não sei, vou olhar. tem pressa?
- tenho, vou sair com maurício; ele quer me mostrar um quadro da exposição de delacroix, que ele adora; sabe bem como
é maurício, obesessivo com seus vícios, se tratando de delacroix então...
- são 14:25; já vai?
- sim. combinei com ele ás 15:00 em frente ao café minuano, vou passar em casa primeiro, preciso pegar um agasalho.
- não precisa arrumar a cama. vá, antes que se atrase. se tivesse um casaco que lhe caísse bem...
- pois então eu vou. seus casacos são muito extravagantes, só quem pode usá-los é você, ana. posso voltar? eu posso
durmir aqui, hoje?
- não, jorge e eu temos de revisar um roteiro; será maçante pra você ficar. por que não sai com hilda?
- talvez. tenho que ir, depois nos falamos então.
beijo seco, típicamente enciumado. braços pendentes, de quem possui raiva velada.
- se cuida, marina.
- bom trabalho, ana.
'menina, ela ainda é uma menina - ainda está incubada no útero'
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