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Eu sou um clichê; Pedinte, andarilho e cego. Vou cuspindo palavras sem nexo Até você entender... que eu não faço parte disso.
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sábado, 8 de maio de 2010
A TRÍADE DO PÓ II
postado por . @ 06:02 0 Comentários
LEIA: A TRÍADE DO PÓ I


quatro da manhã; aquele frio da madrugada corroia meus pés, congelavam alguns movimentos. por que de estarmos ali em plena quarta-feira não saía da cabeça. martelava, pinicava, era incômodo. o frio doía meus ossos, mas era completamente subvertido pelo: que diabos estamos aqui?
'você tá com frio?' - marcelo perguntou olhando-me pelo retrovisor.
'um pouco, meus pés estão congelados. chego a ter espasmos. sim, estou com frio. morrendo!'
'vou passar aí para trás'
'lucas está dormindo?'
'não, lucas está desmaiado.'
'tão previsível...'
marcelo pulou desejaitosamente para trás, arrastando a sola do sapatênis (horroroso)na testa de lucas.
'acho melhor pararmos em algum lugar; eu tô quase dormindo aqui também'
'é, acho melhor; será que tem lugar perto? olha, por mim pode ser qualquer lugar, eu realmente tô com muito frio, marcelo. estou aceitando lençóis de terceiros...'
me ofereceu um beijo na testa: frio, gélido - lábios congelados - testa úmida - incompreensível.
ele tinha mudado, era talhado com as ferramentas mais clichês existentes - homem formado, responsabilidades e bolsas nos olhos - e o tempo em que se calou antes de dizer: 'vamos' - pude perceber uma cicatriz no queixo, formando um A malfeito, seus poros aberto e: 'meu deus, como seus dentes pendem para a esquerda!'
um motel vagabundo foi nossa primeira parada. enquanto marcelo tentava - quase que em vão - acordar lucas, eu fumava um cigarro vagabundo e fétido oferecido gentilmente ( ela quase me negou fogo ) pela 'senhora' da recepção.
fumava de longe - marcelo odeia cheiro de fumaça de cigarro - e ouvia lucas murmurar: 'me deixa, tô cansado, porra!'
eu torcia freneticamente para que lucas ficasse no carro, era incontrolável:
'não acorde. não acorde. não acorde.
se eu segurar bem a fumaça lucas não acordará...
se a cinza cair entre o vermelho e o amarelo da faixa...'
'alice! alice!'
'já tô acabando aqui, já vou te ajudar com lucas; vamos carregá-lo?'
'não, não. vou deixar o cabrón no carro mesmo, porra, tô cansado também, dirigi até aqui e a merda não acorda? vai pra puta que o pariu!'
'nossa, tá frio pra caralho...será que ele não vai...'
'eu vou deixar avisado para alguém da recepção, que se ele acordar avisem que estamos no quarto 15'
'é, assim ele não se desespera.'
'ele não vai acordar tão cedo. vamos?'
'será que é por onde? ah, acho que os quartos ímpares são pra cá.'
o quarto fedia mofo, mas quem liga? era quase sinestésico - abrir uma caixa do passado: mofo. mofo. mofo.
tudo em casa cheirava a mofo; me senti tão em casa como a muito não me sentia.
erámos a família perfeita: eu, marcelo e nosso mofo.
marcelo apagou a luz mesmo antes de eu me deitar: 'deita do lado da parede, que eu te esquento.'
eu obedeci de bom grado; feito uma ovelha calculista que obedece ao seu pastor 'tá bom.'
me enrolei em seus braços - cobertas - um monte de carne despejada em cima de um monte de carne.
'boa noite, alice'
'buenas noches'
comecei a rir em silêncio - cabrón: que insípido!
tardes depois - quando estava em alfa - contando quantas ovelhas obedeceriam o pastor fadigado, ou se o pastor descansará de sua função patética e maçante e libertaria as pobres ovelhas maculadas, ouço um ranger na porta: lucas, se enfronhando rapidamente - feito um rato em seu ninho.
'lucas, é você?'
'ahã'
'quer que eu pegue mais um cobertor? tá com frio? lucas? lucas?'
'alice...'
'oi...marcelo?'
'é. seus pés estão um gelo.'
'estão, não consigo dormir, eles não esquentam...'
'você tá sem meia? - toma, pegue as minhas'
'não precisa...'
'pronto? me dê seu seu pé.'
'por que?'
conduziu meus pés até o meio de suas coxas -
'agora eles esquentam, alice.'

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