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Eu sou um clichê; Pedinte, andarilho e cego. Vou cuspindo palavras sem nexo Até você entender... que eu não faço parte disso.
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domingo, 24 de janeiro de 2010
EU NÃO ADORO A CAROL
postado por . @ 05:56 0 Comentários
'vou pegar pra beber alguma coisa.'
'beber o que?'
'não sei, uma xícara de conhaque podre que tem ali na geladeira; por que, quer?'
'xícara de conhaque? nove horas da manhã?'
(risos sarcasticos)
'você não precisa tomar uma xícara de conhaque para dar coragem' - diz ele rindo e olhando fixamente meus lábios.
'pois é. a tal coragem eu tenho, guardada no bolso fechada com zíper. quando tenho vontade deixo a pobre da coragem vir. é manual, abre fecha. fecha abre. imagina eu, 'socialmente alta' não terei coordenação. então, meu caro, relaxa a bebida é apenas uma bebida pra mim.'
( eu sabia que ele subverteria o assunto. e insistiria na arte do incesto. dois filhos do céu se comendo ás 9 duma manhã de quarta fresca. não, isso é muito clichê, e previsível de mais )
fui pegar a bebida, quente desceu cortando, queimando meu estômago.
uma xícara é o suficiênte.
( estômago vazio, dois biscoitos crem craker pra tapiar )
'você quer?'
'não...'
'o biscoito'
'quero, um pedaço só. chega mais perto, você tá muito longe...'
(ele subverte novamente. se ele fosse um tanto quanto mais sutil....talvez ele não estivesse aqui. )
'tá bom aqui?'
'mais...'
'aqui é meu limite.'
'ah, você tem um limite traçado?'
'sim. ás vezes.'
( silêncio absurdo)
começo a cantarolar quase que involuntariamente. quase não TOTALMENTE.
''Miss Lexotan 6mg garota...
Ela tem andado meio frígida
Tem se preocupado com as coisas do coração
Ela teme intensamente que jamais conheça um carinha
Que vai comê-la estando apaixonado...''
'que porra é essa?'
'júpiter maçã.'
'que droga é isso?'
'nossa, quanto hostilidade!'
'mas isso é o que, uma música?'
'é, estava cantarolando...logo música.'
'é verdade?'
'é. ou você acha que eu acabei de inventar?'
'mas você acha que jamais vai encontrar um carinha que vai ter comer estando apaixonado?'
'não. eu disse é verdade quanto a música ser uma música mesmo!'
'hum...'- odeio o olhar sarcastico dele. ele fica mais 'homem', talvez pela minha referência de homem ser meu pai. o cafetão por prazer, hobbie.
'hum nada oras, eu tinha entendido...'
'relaxa. eu estou apaixonado por você.'
'eu dou uma gargalhada agora ou espero você dizer que me ama?'
'eu disse que estou apaixonado, não que te amo.'
(me jogo na cama de costas. um desmaio voluntário. eu amo qualquer um, só não fico apaixonada...faço ele se deitar junto á mim.)
'eu amo todo mundo, só não fico apaixonada.'
'me ama?'
'amo.'
'agora?'
'agora?'
'é.'
'não, não assim.'
'como?'
(levanto da cama, e sento na cadeira confortável do computador. reclinável giro, e penso numa resposta hermética e concisa. que não dê margens.)
'amo o mundo. tenho amor. só não quero foder por aí.'
'a gente fode aqui mesmo.'
( na minha cama não! )
'pára de ser repugnante! pára de ser chato!'
'por que não ficamos?'
'por que...'
'por que?'
'por que teria te pensar em você.'
'pois pense!'
'não, não assim.'
'como?'
'rola um problema de vícios. eu sou compulsiva. obsessiva compulsiva.'
'adoro vícios. você é um dos meus.'
'não. não. vou te querer a cada manhã, a cada tarde, noite. solidão e nos acessos também.'
'eu viro sua droga.'
'eu vou morrer de overdose.'
'morreremos.'
'e...'
'resussitamos. é o ciclo da vida.'
'rotina?'
'um pouco.'
'sei.'
'eu gosto.'
'não vou transar com você.'
'droga. ainda tem conhaque?'
'um pouco, vou pegar mais, quer?'
'quero né.'
''quero né' babaca!'
'você não quer foder mas pega o conhaque e trás num copo...num copo decente!'
'o que? não vou pegar! vem comigo, você enche teu copo eu encho o meu.'
'babaca.'
'bacaca.'
(risos)
'vamos ver um filme?'
'ah trouxe um ótimo!'
'qual?'
'não está sozinho, alguma coisa assim.'
'vamos.'
'vou me redimir, farei a pipoca.'
'ok, vou fazer o brigadeiro.'
'ahhh cara, você viu aquela entrevista com almodóvar sobre o...'

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