autora
Eu sou um clichê; Pedinte, andarilho e cego. Vou cuspindo palavras sem nexo Até você entender... que eu não faço parte disso.
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quarta-feira, 28 de abril de 2010
#de tous les jours
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sexta-feira, 23 de abril de 2010
CARTEIRO#1
postado por . @ 20:21 1 Comentários
Eu gosto do carteiro. Acho que o nome dele é Jorge.
A diversão de Jorge é procurar casas pra alugar: Só pra ver. E se masturbar em todas elas. Em todos os cômodos.
Jorge é alto. Moreno/claro. Usa um óculos velho. Se veste basicamente com roupas doadas.
Fuma cigarro de palha. Fuma também um velho cachimbo que sua namorada lhe deu. Sua única namorada.
Ela morreu afogada. Eles estavam juntos. Ela pediu ajuda, mas ele ficou inerte. se sente imponente até hoje. Sente culpa.
E um dia Luíza – sua vizinha - coloca 'half a person - smiths' para tocar. Jorge olha pela janela. Ele morava lá havia dois anos. E ela: toda a vida.
Gosta de blues, pois seu avô gosta de blues. Joga bilhar com dois velhos senhores dos correios.
Admira sua vizinha: Luíza. Cursa direito, e sempre sai quando ele chega. Ele observa suas pernas finas, e sua cintura.
Luíza é tão acessível. Ela é tão real. Magra. Olhos claros. Cabelos negros. Nariz avantajado. Um culote um pouco fora dos padrões.
Ás vezes Luíza o encara, e diz um 'oi.' - ele sente que tudo pode, naquele 'oi'.
Jorge já arrumou a TV da mãe de Luíza, que agradeceu com um chá. para azar de Jorge, Luíza estava na faculdade.
Luíza fica com um cara da academia. Jorge fica possesso quando vê o cara buzinar de carro, e abraçá-la de maneira lenta e libidinosa.
Há uma senhora gorda que lhe dá prazer, ás vezes. Celeste. Uma professora do primário, que ele conheceu num chat da bol.
Jorge é seu preferido. Sua pele clara, e seus olhos escuros, fazem lembrar Ataulfo, seu primeiro amor.
Sem contar que Jorge, lhe conta histórias sobre “guerras e frança”. Celeste ama a frança.
Celeste, 45 anos, nunca casou. Sua heroína é Beauvoir. Acha que todas suas relações são 'sartreanas'.
Jorge a faz feliz: quinzenalmente. E ela se contenta com migalhas.
Jorge observa - numa noite - Luíza trocar de roupa. Seios pequenos. 'cabem na palma da mão' - pele mais clara: marcas de biquíni.
Essa noite Jorge não se masturba. Vela Luíza e seus seios reais. Pequenos. E tão rosados.
Noutro dia ele mal consegue dizer: 'oi'. Sente-se á vontade ao divagar: 'ela usa bojo. '
Jorge é entregador dos correios. Eventualmente abre cartas.
Angelina é uma velha senhora que cuida de seu marido aleijado. Seu amado é Lourival. Que manda semanalmente cartas. de Teresina.
Mirna é uma senhora que recebe cartas de seu filho na frança. Jorge desconfia que Matheus, seja garoto de programa.
Dois cachorros assombram Jorge. O da Oswaldo aranha: Laila, um poodle de menos de 6kg, braba feito um leão.
E Edgar: um Cocker arisco com homens. Sua dona: Mirian; vive oferecendo copos d'água.
Mirian, que é uma poetiza decadente e que recebe cartas de caio, seu amado-amigo, já foi amante eventual de Jorge.
Romperam três semanas depois: mirian era ciumenta.
Ela era bonita. Não aparentava a idade que tinha. Exceto pelas exacerbadas rugas em volta dos olhos.
Doralice - sua companheira de trabalho - separava as cartas em escaninhos. Trabalho anterior: locadora.
Doralice tem toc. Realiza todos os seus 42 toc’s diários. Inclusive pensar em todos os seus companheiros de trabalho nus.
Numa das idas eventuais de Jorge a imobiliárias ele encontra Luíza. 'o que faz aqui?' - 'procuro casa pra morar, e você?' - 'o mesmo’.
Luíza diz- tom desapegado: 'minha mãe é o diabo. Preciso ter minha vida. Minhas coisas. Preciso desenhar o SIM da yoko no teto da minha cama'.
Jorge se apaixona pela décima quinta vez. Mal espera poder pousar suas coxas entre as coxas da mulher desejada.
'por que será que ele é tão sozinho' - divaga Luíza em seu quarto. 'abro a janela e deixo ele me ver?' - compaixão. 'eu gosto de seu sorriso. '
Luíza é coberta por uma compaixão sóbria e concisa. 'Jorge em minha cama. Madeira-polida. '
Enquanto celeste corrigi prova. Doralice assiste 'onde os fracos não têm vez' e Mirian alimenta o cachorro. Jorge perde o despir de Luíza.
Little wing começa a tocar. Jorge lembra sua infância. Ascende um cigarro de palha e adormece. 'eu sou um nada’.
”Sorriso de Jorge é maravilhoso. é como um despertar ás 10 da manhã de uma segunda de feriado” – divaga Doralice ao pensar em Jorge enquanto escova seus dentes.
Jorge usa um sabonete - não usa perfume, nem desodorante - usa phebo.
‘Inocência talhada de Jorge, me desperta uma curiosidade-mor’ - pensa sua companheira de trabalho – Doralice.
Doralice gosta de Godard. Cerejas industrializadas. Cheiro de chuva. Unhas: descascadas. Primavera. Placebo.
Jorge gosta de histórias. Azeitonas. Cheiro de gasolina. Unhas: cortadas. Inverno. Beatles.
Luíza gosta de Almodóvar. Frutas cristalizadas. Cheiro de acetona. Unhas: vermelhas. Outono. Smiths.
Doralice começa a sentir explosões na boca do estômago. 'é tumor' - pensa ela. Fazendo uma analogia boçal com 'amor'.
Jorge freqüenta um sebo no centro. Troca compra - conversa com seu Sérgio. Um velho conhecedor de livros, dono do sebo.
Vai hermeticamente as segundas. Sergio sempre reclama dos domingos, com um hálito de álcool. 'esses domingos são insípidos demais, meu jovem. '
Há uma menina que freqüenta o sebo, ás segundas também. Nunca trocaram uma palavra. Acenos com a cabeça.
Alta e tímida. Tem dentes pequenos e sorriso largo. Jorge pensa se seus cabelos são pintados ou naturalmente ruivos.
'ela não deve ter nem 17 anos...' - só leva livros de auto-ajuda e clássicos da literatura - 'e os pêlos pubianos?'
17 de janeiro. 17:56 - saindo do trabalho. Doralice acena com as mãos 'tchau'. - por que tchau, quando é falado rápido, parece 'te amo'?
Jorge pensa em passar no supermercado. Coloca seu mp3: Fiona Apple, Los Hermanos, Regina spektor: City and Colours.
Oliveira - um colega dos correios - o chama para uma jogatina: recusa. leva três cartas no bolso. Grossas - dona Cristina. Emília e Getúlio.
00:22: preciso de um cara. 1:46: preciso de um cachorro. 2:27: preciso de uma samambaia.
Doralice aluga 12 DVDs para o final de semana. Jorge compra maconha, lasanha e vodka. Luíza cobra 350,00 por tcc sobre pedagogia.
Sábado de manhã Jorge toma café com seu avô; ás 7:35. seu Nelson veste um colete marrom, calças cáqui, cinto preto; chinelo com meias.
E nem um fio de cabelo solto daquele monte de fios brancos. - 'parece algodão doce.'
Jorge lamenta suas entradas e seu cabelo fino.
Doralice não aceita a idéia de morrer antes de ver um anão.
Luíza, ás vezes, acorda ás quatro da manhã e vai dormir ás oito. Gosta de ler enquanto sabe que outros dormem: 'mas e se alguém estiver nesse mesmo trecho que eu?'
Jorge gosta de fumar de cócoras na cozinha. Poe Supertramp para tocar. Luíza escuta de seu quarto e cantarola enquanto escuta.
Doralice compra seu primeiro cigarro: free mentolado. Pensa em Jorge. Que pensa em Luíza. Que pensa em sair de casa.
#89
postado por . @ 09:57 0 Comentários

ela sugou com o vento
[sem filtros]
imperfeições
desatino
desvario
o pó
o pó em massa
[construção mal acabada]
domingo, 18 de abril de 2010
UM CONTO PARA UMA BOA MOÇA I
postado por . @ 07:25 2 Comentários
é preciso ser conciso e hermético, meus caros leitores. e desmistificar todo e qualquer resquício de esperança ou expectativa e/ou bobagens que inventaram - tamanhas - sobre céu, inferno e afins.
vou contar-lhes a minhas história, ou melhor, a parte que julgo mais interessante de um velho pintor e sua vida desgraçada.
nasci em montpellier. vivi em montpellier. morri em montpellier.
era um homem comum, não fosse por tal rebuscamento chamado de arte, seria um qualquer um, que trabalhava horas a fio a fim de subverter qualquer sentimentalismo exacerbado, ou fazer ser entendido através das frustrações artísticas - de fato, sendo assim - não poderia ser considerado um artista, pois vivia entre as telas pintadas, entre a tela e o pincel. não tinha imaginação para tal feito: vivia e transpassava, de modo como via, sentia, enxergava.
era um gato de rua. um gato de rua vagabundo, leviano e cheio de amor para dar.
minhas mulheres se entendiam, se amavam, me amavam e eu sempre estive muito satisfeito com o poder mágico das teias sociais. 'esse desenrolar das aranhas enfeitiçadas, esse tenro amor-sóbrio, as tardes claras de gemidos cálidos, as manhãs de hálito almost-pure' - me encantavam.
era cético - quanto ao amor - até apaixonar-me a primeira vez. laura me deu liga á inconsistência em que eu me encontrava. era como um tufão de verão. suas pernas, suas coxas - seu cabelo avermelhado pousando sobre meu peito - suas idéias confusas difusas em minhas idéias prolixas. e quanto mais louco, e quanto mais triste, e quanto mais eu; mais ela caminhava até mim. jurava ter descoberto a dialética do amor: 'ela vem da minha loucura. das lágrimas. quanto mais difuso, mais ela renasce: linda, ruiva, casta. e mais ela me quer. e mais nós nos queremos.'
e essa dialética confusa sobre o tal chamado amor era séria. dava conselhos aos miúdos: 'não há de se preocupar com tais enfermidades. o amor só se pousa em loucos, desvairados;ou poetas e pintores - que nos dá no mesmo. se não te julgas como tal, não era amor.'
minhas telas sempre cheias de antagonismos, loucuras, venialidade: fiz do amor louco de laura (que tinha por laura, que poderia imaginar o louco amor que tinha por mim) um negócio lucrativo.
'então és capaz de amar' - diziam-me e, confesso, feriam-me mais do que tudo. amar nos dá credibilidade. nos torna real. nos descabela, então sabemos que somos capazes de ser despenteados.
nunca neguei tal fato, nunca pus-me ao meio, de peito aberto a gritar: 'sou incapaz de amar, irmãos' - talvez a má fama tenha vindo de minhas muitas mulheres - e diga-se de passagem, amava todas com o mesmo carinho com que me amava - e de muitos corações partidos; o amor egoísta.
julgavam-me incapaz de amar, e era tão dolorosa a aceitação de que me vissem assim: pois era eu quem cuidava das flores, eu quem cuidava do amor de muitas mulheres de montpellier. entregava-me um botão, que modéstia a parte, ia-se abrindo feito uma rosa rara num campo a esmo. quem mais do que eu para saber amar?
apaixonei-me, assim, feito por laura - de arrebatar-me o ar, arrancar-me os dentes e sufocar-me o estômago - três vezes.
na primavera de 1888, apaixonei-me pela quarta vez. não teria a prepotência de dizer-lhes que era diferente, que meu coração saltitava de maneira aguda e dolorida, ou que apenas saltitava num azul-amarelo infinito - não - eu sabia que era paixão, que subia um fervor em meu olhar, quando olhava seus pequenos gestos ao pegar uma xícara de café e mexer lentamente o chá. não havíamos trocado uma única palavra; ela sentava confortavelmente á minha diagonal e eu, um velho indigesto sentado de maneira qualquer, fumando um cachimbo qualquer, fingindo prestar atenção nas palavras esganiçadas de velma thompson - 'como sou medíocre' - confessei-me - 'estou numa tarde infantil incitando meu lado passional. tenho de marcar a hora em que descobri tal fatalidade' - divertia-me em saber que possivelmente viria a cortejá-la a noite toda.
fomos apresentados, bem mais tarde do que eu poderia prever, pela própria anfitriã: senhora thompson.
'já ouvi muito sobre o senhor, Dorléac' - ela tinha os lábios arroxeados e carnudos; sua intonação de voz era límpida, olhou-me dos pés a cabeça - quase soou em seu olhar hermético, como um desdém.
'e o que ouviu sobre mim de tão desdenhoso assim, para olhar-me dos pés á cabeça?'
'desenhoso? ora, desculpe-me senhor Dorléac...' - a interrompi bruscamente: 'franco, por favor.'
'me perdoe, mas prefiro manter total respeito, senhor dorléac. desculpe-me pelo olhar incisivo, vinha reparando que seu cachimbo é de mesmo tom de seus sapatos, e subitamente fui inebriada pela lembrança de papai, perdoe-me.' - ela mantinha uma postura dura, mesmo que seus olhos a entregassem completamente.
'charlotte - disse-lhe - não estás com frio?'
'frio, senhor dorléac?' - olhou- me novamente com seu ar de desdém; de menina prodígio, do alto de sua torre de marfim; bebendo vinho e dividindo com seu súdito a garrafa em cima da mesinha.
e eu a conheci ali, e marquei exatamente o dia, a data e as horas em que pousei - mais uma vez - meu amor.
necessitava de estímulos para novos quadros - não nego - necessitava de ares diferenciados; ser desafiado por uma figura feminina, ser vassalo, sofrer. necessitava de tais ferramentas, era preciso - era a boa e velha dialética do amor: inspirações.
charlotte era encantadora, havia algo de impenetrável em seu espírito, como se a cortejar eternamente fosse necessário, e óbvio, se fosse tal merecedor de suas brechas, poderia me considerar o homem mais feliz do mundo.
definitivamente deixei meu amor pousar no colo de senhorita charlotte duchamp; era de total conveniência, necessário - era de arregaçar as mangas, fazer sofrer - iria cortejá-la a meu próprio favor: era minha nova condição.

II

era sempre muito furtivo passar tardes a conversar com charlotte, apesar de seu muro - quase intolerável - imposto subjetivamente. ela tinha uma crosta de frieza que era quase impiedosa, chegava a machucar-me, cortava-me a pele. eu não entendia por que tanta frieza, já que eu lhe era tão amável e amigo, e tão compreensível. mas sabia que me era imposto como condição, e um sorriso que fosse transcendente do rosto ás vezes tão amargo, era de uma alegria minimalista quase que indescritível.
comecei a repará-la nos gestos mínimos: no caminhar, gesticular de braços, a maneira como respirava ofegante, a forma como enrolava seus cabelos nos dedos, como seu colo transpirava de maneira exacerbada á luz do sol. eu seguia um quadro humano, um quadro de beleza duvidável a olhos nu - mas que ainda assim me encantavam ainda mais.
comecei a tirar alguns sorrisos sinceros de charlotte, algumas piscadelas e alguns sentimentalismos antes não vistos. e ela me contava coisas sobre sonhos, seus desejos, sua vontade imensa de seguir a vida sozinha e sobre suas pintas - várias - em seu corpo, e quanto as odiava; e eu, mero mortal, que a cada dia a admirava mais e mais, amava suas pintas que pintavam todo aquele corpo flácido e branco.
mesmo com toda minha admiração estampada no peito, mesmo com todo meu amor sendo erguido em bandeira a punho, charlotte estava distante, se mantinha distante por alguma razão desconhecida. eu já conseguia, de certa maneira, sofrer por ela. sentia vontade imensa de visitá-la aos finais de semana, porém continha-me: era necessário deixar a saudade transbordar, e imaginar que qualquer outro homem do mundo seria capaz de levá-la para a cama, ou melhor, no caso de charlotte: que qualquer homem lhe tirasse um sorriso sincero.
eu era capaz de imaginar um transeunte qualquer em cima de charlotte, eu precisava sofrer. beijando-lhe os seios, pousando suas coxas flácidas em seu dorso tão masculino; ah, como sofria! e como era tão necessário, e como era tão bom!
apertava-me o peito os dias em que não via charlotte, é como se nutrisse algo da falta, do não ter - não possuir. a saudade que transbordava me inundava ás avesas. passei a vê-la aos finais de semana: era preciso. minhas histórias estavam a ficar sérias de mais, e imaginava um criado tão negróide em cima de charlotte a beijar-lhe o ventre, e a foder-lhe como um selvagem. imaginava os gritos e gemidos nada discretos, o balançar da cama e a hora exata no gozo. a visão de charlotte latejando me embulhava o estômago. eu a desejava, sim, eu a desejava: dentro de mim, só de mim - só de mim.
queria foder-lhe até os ouvidos, queria rasgá-la, comê-la, penetrar em seus segredos mais fundos, fazer de suas entranhas minha morada noturna...
e os segredos de charlotte? quais eram seus segredos? por que era tão frígida, tão calada? tão híbrida? eu queria derrubar o muro de marfim que a separava de mim, queria derrubá-lo com uma caralhada só.
não era mais preciso incentivar a imaginação: eu via charlotte nas esquinas, vendendo o corpo, atirando beijos aos andarilhos, sussurrando vulgaridades pelo ar. e para mim? para mim ela conservava a insipidez dos sorrisos sinceros, o pudor das mães e vós. para mim ela conservava o ventre seco. a mão na mão.
e eu suava ao pensar que aquela mão já havia percorrido milhas e milhas...
a febre subia-me a tez, como era possível a vida ser tão desgostosa assim? era possível não ser correspondido? eu era peça de enfeite aos finais de semana - por que toda mulher que me pareça, precisa de alguém que lhe dê a mão - definitivamente: eu era o bobo da corte.
sabiam todos que eu era um joguete da alta sociedade? viam-me com outros olhos? compaixão? piedade
quinta-feira, 15 de abril de 2010
SE É TARDE ME PERDOA
postado por . @ 06:03 2 Comentários
Se é tarde me perdoa
Mas eu não sabia que você sabia
Que a vida é tão boa
Se é tarde, me perdoa
Eu cheguei mentindo
Eu cheguei partindo
Eu cheguei à-toa
Se é tarde, me perdoa
trago desencantos
De amores tantos pela madrugada
Se é tarde me perdoa
Vinha só cansado


(João Gilberto)
#2
postado por . @ 05:39 0 Comentários
o mundo tá uma merda
o mundo devolve pra mim.
o ralo já disse que não me aguenta
e a pia se recusa a dizer 'sim.'
o rato rói a boca de meu estômago
a comida não desce mais...
essa chuva que não para
e o cachorro não deixa em paz.
o vizinho se lamenta, que a mulher foi-se embora
dia-a-dia cantarola:
'ela não mais voltará.'
sinto saudades da blasfêmia
que meu veio sussurrava.
[...]
'ande logo minha nêga o café vai esfriar.'
quarta-feira, 14 de abril de 2010
#99
postado por . @ 21:24 1 Comentários
'e essa felicidade hien?' - eu me pergunto ao espelho. levanto a sombracelha - ponho me a pensar...
repito ao entrar na cozinha: 'e essa felicidade hien, onde é que está escondida?
são longuinho, são longuinho...
e se eu achar...
e se eu achar...
onde será que botei?
será que tá no balde de roupa suja?
ou será que tá na gaveta de calcinhas e sutiãs - falando nisso, para o bem da comunidade geral, preciso comprar umas calcinhas novas.
será que deixei em baixo da cama?
dobrei com os panos de prato lavados?
entreguei como troco da pizza?'
TRÍADE DO PÓ I
postado por . @ 07:12 1 Comentários
vai produzir efeito colateral '- diz o carona do carro. amigo de infância meu e de marcelo.
'o que vai produzir efeito colateral?'
'isso. isso tudo. nós. eles. o mundo. ressaca.'

olhei para marcelo, que ria enquanto soltava bafo e desenhava - respectivamente - no vidro embasado.
eram 23:46. terça-feira. e nós decidimos sair, e pegar a estrada. por que é condição: filhos da liberdade vã.
marcelo é filho de meu pai, com sua primeira mulher; não fosse por esse detalhe sórdido teria encontrado meu cais.
caos foi tê-lo a adolescência inteira, deitado a beira da cama e balbuciando: 'minha irmãzinha'. dou créditos aos vícios pagões. não fosse tão amarrado: irmão. irmão. irmão.
vivemos bem. nos amamos feito irmãos. do jeito como deve ser. ignoro o fato dele ser tão temívelmente meu. ignoro as pestanas enormes. os olhos azuis, que pedem para mudar de cor. os pêlos aloirados. e o hálito matinal doce. ignoro. nem lembro. nem faço menção. meu irmão.
'acho que deveríamos sair daqui. onde estamos?' - diz marcelo, apertando os olhos com as mãos.
'você quis parar. não sei, por mim fumaríamos andando.'- sentia incrível repúdio ao tom niilista com que lucas dizia suas frases prolixas. 'esse tom niilista me fere.'
'também acho melhor irmos. tô ficando com fome.'
'você sempre tá com fome, alice. vamos encher o tanque?'
'tenho pouco dinheiro, pra onde vamos? só rodar? se for só rodar tô fora...não dou um caralho.'
'você sempre muito cordial, não? lucas!' - fite-o com olhar maledicente. oras, que saia do carro e nós deixe! o intruso aqui é você, meu amigo! contive-me, pois sabia que marcelo considerava o cabrón.
Há 3 anos não nos encontrávamos. por falta tempo. por medo. por displicência...é a vida de responsabilidade, a vida adulta. a vida chata. 'invertemos e comemos a sobremesa antes do prato principal.'
a mulher de marcelo me odiava. e eu, como boa escorpiana que sou, retribuía da melhor maneira possível.
eram casados a pouco tempo, cerca de 2 anos. não fui ao casamento. estava sóbria de mais para encarar a realidade de peito aberto, salto 15 e sorriso na cara.
eu era a madrinha. uma das madrinhas. mas a única que desejou fortemente que alguém fosse capaz de gritar: sim, eu tenho ago contra verônica! ela é casada! tem 5 filhos! quer dar o golpe do baú inverso! [...] ou simplesmente: um cara se levanta, ao fundo. ela olha para ele, relembra sua adolescência, seu amor de verão de 99 - aquele nunca esquecido - ele declama vinícios de moraes, ela chora. ela ri com canto dos lábios. ele treme. ela treme. os dois se olham e ignoram o fato de ter exatos 150 convidados. cometem um pecado na igreja mais conhecida da cidadezinha do interior. transam ali mesmo. ao som da marcha nupcial. marcelo me procura com olhar: cadê meu amor? estou livre! estava cego! eu entro em câmera lenta: salto 18, vestido de vinil - preto. começa a tocar sister of mercy, os convidados desaparecem envoltos na fumaça cor-de-pecado, bordô. marcelo toca meus lábios com dedo indicador. 'seus cílios são enormes' - penso. me beija logo, amor...
e depois disso...depois disso não consigo mais imaginar nada. seca. pedra. insípida.
é claro que casaram; e que verônica não tinha nenhum amante, e que nunca terá. é tão óbvio, ela é tão óbvia!
lucas também não foi ao casamento. estava numa de suas viagens maravilhosas. numa de suas viagens que vem com pacote de egocentrismo e prepotência:'não cara, você não estava lá, não viu o que vi. momento histórico. é sinestesia. foi tudo na encolha, tudo no submundo chileno, um turista qualquer não tem esses esquemas. eu consegui desenrolar num papo...'
filho único de pais separados: mimado. o conheci através de marcelo, quando éramos criança. ou melhor, quando eu era criança. nossa diferença de idade é de 4 anos. pouca, hoje em dia.
Lucas é um vagabundo nato. dizia que mudaria o mundo, com aquele velho discurso de burguês revoltado, aquele típico adolescente. mal conseguiu mudar o rumo da vida. não há tanta compaixão assim no peito de lucas. quando era mais nova o admirava. e ele falava tanto em paz e amor e liberdade - em viver em função do que há pra ser vivido: seu rumo - que por um descuido absurdo de rotas acabei me apaixonando.
eu tinha 18 anos, quando num verão qualquer - muito calor - nos despimos no quarto da tia cida.
e os olhos dele fechado olhando meus olhos abertos - 'em que ele pensa?'.
eu imaginava o quanto o corpo de marcelo pesava - nu. e seu seu obliquo me machucaria. e se seus pêlos fizessem algum tipo de forma estrutural...mas eu estava ali com lucas; e seus pêlos eram ralos, e seu oblíquo me machucava, e ele pesava poeticamente sobre mim.
o fato de amar lucas ás terças e sextas não borrava o quadro de amor patológico que sentia por marcelo; pelo contrário, me sentia mulher o sufuciente para deslizar charme inrustido.
e quando ouvia cazuza - e declamava, olhando para aqueles olhos-mar, e suplicando: desagua em mim, deságua em mim, deságua? - ele parecia me compreender - fechava os olhos e me deixava declamar em final - deságuo.
'não é possível que você não tenha dinheiro, lucas.'
'nadinha. pô, eu tô quebrado. você tá por fora, depois que meu pai morreu as coisas ficaram fodidas lá em casa.'
'e as festas da sua mãe?'
'você acha que hoje em dia minha mãe tem alguma credibilidade? entram pingado, um pouco lá, um pouco aqui. os imóveis e tudo mais...mas tá foda, alice.'
achei inconveniente perguntar quem é que bancava as viagens mirabolantes que ele fazia.
houve um época em que eu conseguia imaginar lucas como michê. garoto de programa. prostituto. na melhor das hipóteses: cafetão.
ele não fazia o perfil, mas há perfil para isso?
'vamos, eu tenho cartão de crédito aqui' - não entendia o motivo de marcelo ter nos chamado para - a já tarde - reunião da tríade. tinha de fato subvertido á idéia de ser completamente apaixonada por meu irmão. de estar fadada á negligência eterna.
'ele quer esfregar na minha cara o quanto é feliz com sua mulherzinha paulista, de traços finos e que nunca vai traí-lo! quer nós dar alguma lição de sua vida perfeita. quer nos enfeitiçar com seu pó mágico de felicidade eterna.'
quando tentei beijá-lo lá pelos meus 11 anos, ele ficou inerte. não trocamos uma palavra por seis meses. eu não sabia que as coisas funcionavam por uma dialética que ignorava o amor fraterno - sim, era fraterno: 11 anos - eu não sabia que o amar tinha restrições. ele não contou á ninguém. voltamos a nos falar e subvertemos. nada havia acontecido. tirando o fato dele me boicotar em algumas cenas da vida real. já não tomávamos banho juntos e nem dormíamos na mesma cama.
'marcelo, bota quanto de gasolina?'
'ah, enche o tanque.'
'vamos pra onde marcelo?'
marcelo me olhou como a muito não olhava. deitou a ponta de seus dedos em meu rosto. quase entreguei o amor foragido. chegou o mais perto que pôde - maldito cinto de segurança - e disse-me em tom melindroso: espera, morena.
terça-feira, 13 de abril de 2010
#87
postado por . @ 08:53 0 Comentários
pensamentos andam tão limitados. eu preciso parar com esse todo egocentrismo.
não me suporto. alías, não suporto o fato de estar tão condicionada. por quê?
Há um conflito um nó/Eu difuso enfim...
segunda-feira, 12 de abril de 2010
DORALICE EU BEM QUE LHE DISSE...
postado por . @ 20:00 0 Comentários



quarta-feira, 7 de abril de 2010
TÁ BOM
postado por . @ 01:46 1 Comentários
configurar algumas caixas de prazer.
trem em movimento: alastro.
frames, divididos em métricas.
'eu pago ou você paga?' - 'cada um paga o seu.'